1) O QUE É A AMAZÔNIA?
Muita gente se confunde aqui. A Amazônia é muito maior que o Amazonas, estado. Geograficamente, é uma ampla região natural da América do Sul, definida pela bacia do rio Amazonas e coberta em grande parte pela maior floresta tropical que este planeta já sonhou em ter. Em termos de rios, a bacia hidrográfica da Amazônia possui afluentes de extrema importância tais como rio Negro, Tapajós e Madeira, sendo que o rio principal é obviamente, o Amazonas. Além do Brasil, o rio Amazonas que nasce na cordilheira dos Andes, serpenteia por outros oito países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
Especificamente no Brasil, nossa Amazônia é delimitada por uma área chamada de “Amazônia Legal”, que engloba nove estados brasileiros pertencentes à Bacia amazônica e, conseqüentemente, possuem em seu território trechos da Floresta Amazônica. A Amazônia ou Amazônia Legal, possui 61% do território brasileiro e compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e ainda parte do estado do Maranhão.
Depois desta rápida explicação, você está apto(a) a saber o número: são impressionantes 5.217.423 km² de Amazônia.
Parece bastante né? Pois é, acho que um dia já foi. Veremos no item 2.
2) A AMAZÔNIA É FINITA.
Apesar das dimensões continentais e da magnífica grandeza geográfica, a Amazônia é finita. E lhes digo isso como conhecedor de causa. Durante a Expedição Madeira – Rumo ao Norte passando por quase toda a Amazônia, pudemos ver e documentar o que décadas de devastação fizeram e ainda fazem, às áreas de floresta nativa. Em absolutamente todos os estados que compõe a Amazônia, há em menor ou maior nível, a mão destrutiva do homem. Lugares incríveis, com mata fechada, riachos cristalinos e abundância de vida silvestre se intercalam com vastos campos para criação de gado. Além disso, acompanhamos um triste e crescente ranking de animais silvestres atropelados nas estradas.
Infelizmente isso é real e difícil de reverter. A área de floresta original e preservada é cada vez menor. Este mês comemoramos uma redução drástica no percentual de área desmatada comparada ao mesmo período de 2008. Em maio/2009 por exemplo, a Amazônia perdeu cerca de 123,7 km² de suas florestas – área equivalente a sete vezes a Ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco. Significa uma redução de 89% em relação ao mesmo período do ano passado.
Entenderam a gravidade? Se estamos comemorando a devastação de *apenas* 7 Fernando de Noronha neste mês, imagine o que as duas, três ultimas décadas deixaram na Amazônia. Sinceramente, posso lhe dizer: uma paisagem pouco parecida com as imagens do Fantástico e Globo Repórter de quando era criança e muito mais parecida com o interior de São Paulo.
No entanto, pela monstruosidade da região, ainda existem grandes áreas de floresta nativa. Estas áreas, ainda virgens, são as que devemos mais nos preocupar em preservar. Se continuarmos neste ritmo, em uns 10, 15 anos não haverá mais nada lá. E aí se segurem com as mudanças climáticas, que se intensificarão por todo o mundo.
Cemitério às margens do rio Amazonas
3) O QUE DESTRÓI A AMAZÔNIA?
Em três palavras: madeireiras / agroindústria / estradas.
A natureza é sábia. Talvez este seja o motivo de ainda termos a maior floresta tropical da Terra. O solo da Amazônia (acima do Mato Grosso) é conhecidamente pobre em nutrientes, fazendo com que não seja ideal para o plantio de grãos. A Soja que quase dizimou a totalidade das matas e florestas do Mato Grosso, sofre um pouco mais para se estabelecer ali. Mesmo assim, o homem vai tentando dar seu jeito.
Nos últimos anos o principais vetores do desmatamento da Amazônia foram a expansão do cultivo de grãos e principalmente da pecuária, a extração ilegal de madeira, além da melhoria de infra-estrutura de transporte. Estes fatores tem mais ou menos peso dependendo da região. Grandes áreas localizadas sobretudo a leste do Parque Indígena do Xingu, foram convertidas de floresta para campos de soja. Assim, áreas já desmatadas e que eram utilizadas como pastagem para o gado foram substituídas por cultivos agrícolas, criando o incentivo para o desmatamento de novas áreas para a formação de pastos, com o intuito de comportar os rebanhos que foram “desabrigados” pela soja. No cenário mais atual o principal vilão é sem dúvida, a agropecuária.
Historicamente é sabido também que além do progresso, as estradas costumam levar alto grau de destruição aos lugares. Ambientalistas apontam as rodovias como rotas que levam o desmatamento às diferentes regiões da Amazônia. O mapa com os focos de desmatamento mais recentes detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) parece comprovar esta teoria: as áreas de devastação se concentram ao redor de estradas como a Transamazônica, a BR 163 (Cuiabá-Santarém) e a BR-364. Por outro lado, vivi na pele o fato de ficar a mercê de transporte fluvial na região (o único meio possível atualmente para chegar em alguns lugares) e particularmente sou a favor de abrir a BR-319 para melhorar o acesso dos locais e inclusive levar algum progresso a região, que sim, se faz necessário. No entanto, acredito que a opção por continuar a estrada foi equivocada. Poderia ser feito investimento em malha férrea, menos prejudicial à natureza, mais barato, ecológico e mais rápido.
4) QUEM DESTRÓI A AMAZÔNIA?
Para colocar de uma maneira simples: eu e você.
Se levarmos em conta apenas o Brasil, os maiores consumidores e de certa forma fomentadores da devastação da Amazônia, são as regiões abaixo do centro e centro-oeste brasileiro. São Paulo encabeça a lista de maior comprador de madeira da região mas não é o único.
Se olharmos pelo panorama mundial, os maiores devastadores são Estados Unidos e Europa, uma vez que a madeira da Amazônia alimenta inúmeras cadeias de vendas de pisos e móveis por lá. Esse é o esquema mais sujo de todos. Uma recente pesquisa feita pelo Observatório Social, pela ONG Repórter Brasil e pelo Papel Social Comunicação, aponta que 70% de toda a madeira comercializada no estado do Pará, maior vendedor de madeira amazônica no Brasil, tem origem ilegal. Essa madeira é “esquentada” dentro de órgãos do governo. Autoridades do MPF (Ministério Público Federal) e do Ibama confirmam o esquema e apontam o envolvimento da Secretaria Estadual do Meio Ambiente que opera em parceria com madeireiras e empresas de exportação.
Ou seja, enquanto houver gente comprando, haverá gente vendendo. Seja madeira, seja carne, ouro ou qualquer outro tipo de recurso natural.
5) COMO NÓS, QUE NÃO FAZEMOS PARTE DA AMAZÔNIA, PODEMOS AJUDA-LÁ?
Bom, em primeiro lugar, todo esse blá blá blá de a Amazonia é do mundo, é balela. A Amazonia, ao menos a parte que está em nosso país, tem suas fronteiras guardadas pelo Exército Brasileiro e é nossa e de mais ninguém. Porém, devido às suas dimensões, o que ocorre ali acaba de certa forma influenciando boa parte do resto do globo. Nesta conjuntura, precisamos parar de ficar numa postura de espectador (que é tão comum ao povo brasileiro -me incluo nisso-) e começar a fazer algo efetivo para fazer jus ao que é nosso.
Atitudes simples podem ajudar
– Se for reformar ou construir, verifique se a madeira realmente é legalizada. Não deixem que te façam de bobo com um selinho qualquer. Vá atrás da informação quente. Veja se a madeira vem de areas de reflorestamento, se há um programa sério de acompanhamento e garantia de procedência. Melhor, use madeira de demolição: mais limpa, durável (já está bastante seca) e apenas um pouco mais caro.
– Economize energia e busque fontes alternativas (todo mundo sabe do que estou falando). O governo só precisa construir usinas na Amazônia (como a de Jirau e Santo Antonio no rio Madeira), porque há consumo. Tem o objetivo geral de levar desenvolvimento e preparar a região norte, no entanto, boa parte do que for produzido lá, será utilizado como backup para que não tenhamos mais apagões no resto do país. Se as pessoas não consumissem tanto, não seria necessário gerar tanto.
– Agora, quer ajudar realmente a Amazônia? Mesmo? Então esqueça-se da Amazônia e pense no Brasil.
Tudo o que falei anteriormente deve, se muito, ser 20% do que destrói efetivamente a Amazônia. O maior responsável pelos problemas por lá, é sem dúvida, a corrupção. E corrupção em todos os níveis. Governo, empresas e no fim, todos nós. Não adianta lei em cima de lei se nada acontece e os culpados não são punidos. Não adianta programa de certificação de madeira se há envolvimento do IBAMA, empresas de exportação e outros órgãos do governo, esquentando a tora. Não adianta usar transporte público se no dia-a-dia, você faz uso do ‘jeitinho brasileiro’, leva uma vantagenzinha aqui, outra ali. Não adianta sentar a bunda na cadeira e esperar 4 anos passarem de votação em votação enquanto tem gente fazendo sessão secreta no Senado.
Para ajudar a Amazonia, precisamos ajudar o Brasil. Este é um único país, com patrimônio natural e cultural inigualáveis.
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